eternamente e magnificamente, drácula
resenha e reflexões sobre o clássico do horror de bram stoker
Bram Stoker, em Drácula, nos conduz por uma jornada majestosamente sombria. Presumo que tudo o que vou relatar é o sentimento que atravessou o coração de todos os amantes da literatura gótica nos últimos 128 anos — aqueles que tiveram a oportunidade de segurar este livro em mãos e mergulhar em sua narrativa assombrosa e cativante.
Publicado em 1897, Drácula surgiu para seduzir os amantes do horror. Agora, em 2025, chegou às minhas mãos e mudou completamente o rumo das minhas obsessões e paixões. É daquelas leituras que fazem você esquecer a hora do jantar, ignorar as mensagens do namorado no celular e acordar no dia seguinte completamente acabada, porque simplesmente esqueceu que precisava dormir para trabalhar.
A edição de Drácula da Darkside é uma verdadeira biblioteca de Alexandria Vampírica, com materiais extras de cartas que o autor recebeu de notáveis figuras da literatura, matérias lançadas pelos jornais da época, um posfácio que nos traz dados históricos sobre a criação do livro e mais algumas curiosidades. Se trata de uma edição extremamente rica em informação, trazendo também, minhas partes favoritas: os filmes que foram inspirados no livro e uma "Galeria Sangrenta" com imagens dos manuscritos originais feitos pelo autor.
Sobre a história (contém spoilers)
O conde Drácula, no início da história, é caracterizado como um ser um tanto grotesco. Com lábios cor escarlates, dentes afiados, sobrancelhas espessas e orelhas pontiagudas. Outro aspecto que achei curioso foi a habilidade do conde de controlar animais, ventos e marés, além de se transformar não apenas em morcego, mas também em lobo; uma clara referência às lendas de lobisomens, com as quais o autor provavelmente teve contato na época. Suas mãos são descritas com certa excentricidade com dedos curtos, unhas grandes e pelos no centro da palma. Com o passar dos acontecimentos, ele passa a ficar mais jovem, resultado de sua fartura com o sangue de inocentes. O sangue é o que lhe traz vida e imortalidade.
O livro é construído a partir de cartas, diários e fonógrafos, uma forma fascinante de nos aproximarmos dos personagens e nos sentirmos mais íntimos de suas experiências. Jonathan Harker, um advogado, é uma das primeiras (quase) vítimas do conde Drácula. Ele viaja até o castelo do conde para fechar um negócio sobre uma propriedade em Londres e, ao longo de sua estadia, descobre horrores inimagináveis. Por incrível que pareça, ele consegue sobreviver, e Mina, sua futura esposa, o encontra em um hospital distante de sua cidade natal.
Mina tem uma melhor amiga, Lucy, que é cortejada por vários cavalheiros encantados por sua graça e beleza. Infelizmente, eles não eram os únicos que se interessavam por ela: o conde, em seu plano de se mudar para a Inglaterra, escolhe Lucy como sua próxima vítima. Lucy não sobrevive ao encontro com o vampiro, mas “revive” como uma morta-viva, tornando-se tão cruel quanto o próprio conde. Van Helsing, um médico e professor que aparentemente já conhece o mundo dos vampiros, tenta salvá-la, mas sem sucesso. Ele e os cavalheiros apaixonados por Lucy precisam garantir que sua alma descanse em paz.
É então que o conde volta sua atenção para sua próxima vítima: Mina. E é essa escolha que, no fim, levará à sua destruição.
Minha mente, muito provavelmente influenciada pela imagem erótica do vampiro, interpretou a transformação de Mina como algo libidinoso. A cena em que Mina, ajoelhada na cama, toma o sangue do peito de Drácula — onde sua camisa está rasgada — traz um erotismo excêntrico, mas inegavelmente sensual. No entanto, há também um ar de violação, pois ela é obrigada a fazer aquilo, forçada pela vontade do conde. A própria estética vampírica de “beber o sangue no pescoço” já é carregada de sensualidade, afinal, o pescoço é uma parte do corpo atraente, sensível e, para muitos, excitante.
Após esse acontecimento, a história nos mergulha em uma jornada de cavaleiros, o famoso clichê de homens fortes dispostos a salvar a vida e a honra da mocinha. Uma aventura contra o tempo para evitar que sua alma se perca na eternidade do pecado e se transforme em uma criatura cruel e lasciva.
Confesso que esperava, ao final, uma grande batalha épica contra o próprio Drácula. No entanto, o que vemos é uma luta corporal singela contra os capangas encarregados de transportar seu caixão até o castelo, seguida de um final um tanto corrido, com uma morte triste, porém necessária, para trazer realismo e dramatização à narrativa.
Minhas reflexões...
Fiquei impressionada com o fato de que, apesar de ser um livro do final do século XIX, a personagem Mina traz uma personalidade forte e uma inteligência marcante. Claro, todos somos produtos de nossa época, e eu não esperava que Bram Stoker criasse personagens femininas tão complexas. Ainda assim, discutir personagens femininas é algo que nunca deixo de mencionar em minhas resenhas. Mina, mesmo sendo tratada como frágil e dramática em alguns momentos, é peça fundamental para a captura do conde no final da história.
Me impressiona o quanto uma obra pode influenciar uma sociedade. Drácula não foi a primeira história sobre vampiros, mas foi a primeira a ser eternizada e relembrada mesmo após tantos anos. É uma narrativa que ultrapassa gerações e ainda mantém o poder de cativar e amedrontar. Confesso que, em algumas noites, fiquei com medo de avistar, no escuro, a silhueta de um homem esguio, com dedos compridos, espreitando no canto da parede.
Drácula entrou pra minha lista de favoritos e sempre terá um lugar em meu coração. Sem a menor dúvida, um livro 5 estrelas. ⭐⭐⭐⭐⭐
Trechos que destaquei
"Pois a vida, no fim das contas, é esperar por algo diferente do que a gente está fazendo, e a morte é a única coisa certa para todos nós."
Diário de Mina Murray, onde ela descreve uma conversa que teve com um senhor sobre morte.
"Aposto que algum dia, uma dessas escritoras feministas vai lançar a ideia de que homens e mulheres deveriam poder se ver dormindo antes de propostas de casamento serem feitas e aceitas. Suponho, porém, que "a nova mulher" não vá se contentar em aceitar, pois ela própria vai fazer o pedido."
Diário de Mina Murray, onde ela comentar sobre o quando Lucy está linda mesmo dormindo. Um trecho que me deixou um tanto curiosa em relação aos pensamentos do autor e das pessoas da época em relação a liberdade feminina.
"[...] bendita é a mão, que desfere o golpe da libertação."
Van Helsing comenta sobre a transformação de Lucy para vampiro e que, somente a morte e anaquilação de seu corpo libertará sua alma daquela maldição.
"Quanto a mim, me decidi. Se Mina se transformar em vampira, não vou deixar que ingresse nesse universo desconhecido e terrível sozinha. Suponho que, antigamente, os vampiros se multiplicaram desta forma: assim como seus corpos odiosos só podiam repousar em terra sacra, o amor mais sagrado deve ter recrutado muitos soldados para seus exércitos infernais."
Diário de Jonathan Harker, onde podemos observar em sua fala o quão aflito ele estava com a possível transformação de Mina em uma vampira. Se isso não é uma declaração de amor, não sei mais o que é romance.
E vocês, já leram esse livro? Ou já assistiu algum filme que se baseou na história? Tenho planos de escrever sobre curiosidades cinematográficas e literárias de Drácula, o que acham?
É isso, espero que tenham gostado da minha resenha.
Com amor e muito terror, Luiza. 🖤
mais uma resenha adorável, amei o texto. 🩸
Confesso que eu acho a obra completíssima, principalmente essa edição da Darkside, mas infelizmente tentei finalizar a leitura 4 vezes e nunca consegui. Não sei se é a escrita, ou o formato do livro, mas não consegui finalizar infelizmente. Sua resenha esta magnifica, adorei a sua escrita, os trechos destacados e as reflexões, lindo lindo 🫶🏻